Cortes de energia e Geração Distribuída

O noticiário dos últimos meses do setor de energia está repleto de notícias sobre curtailments – os cortes de energia. Neste Radar, nosso convidado Vinicius Canheu dá sua visão sobre este tema e sua implicação para o setor de Geração Distribuída (GD).  

Autor desta edição:

Vinicius Casagrande Canheu, membro do Conselho de Administração da Alupar. Possui mais de 20 anos de experiência em mercados de capitais, private equity e fusões e aquisições. Atuou por 14 anos no Credit Suisse Brasil como analista de investimentos nos setores de Energia, Saneamento, Infraestrutura, Bens de Capital e Óleo e Gás, com participação ativa em processos de emissões primárias (IPOs) e secundárias (Follow ONs). Também foi sócio e participou da gestão de carteiras de fundos de investimentos e private equity no Brasil, envolvido na criação de veículos focados em investimentos nos setores de transmissão, energia eólica e geração distribuída. Formado em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, certificado pelo CFA® Institute desde 2007. 

O Radar Uinvex é escrito pessoalmente pelos fundadores da Uinvex ou por experts renomados em suas áreas de atuação sobre temas relevantes do mercado de investimentos.

Curtailment de energia. Risco não iminente para GD

“No Brasil, até o passado é incerto”. A frase comumente atribuída ao ex-ministro da Fazenda Pedro Malan já resume o perigo que qualquer analista se sujeita ao pensar sobre resultados futuros de algum evento legal ou regulatório no Brasil.

Após esse preâmbulo, nos arriscamos a abordar uma dúvida que comumente vem à tona aos stakeholders de geração distribuída (GD) no Brasil. Os eventos de corte de energia implementados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aos geradores eólicos e solares podem vir a afetar as unidades de GD? 

Nossa opinião é que não, as unidades de GD não devem ser impactadas por estes eventos, pois como o próprio nome dessa modalidade de geração sugere, ele é “distribuído”, ou seja, gerado majoritariamente próximo aos centros de consumo e injetados diretamente no sistema de distribuição. A geração centralizada (não distribuída) tem a sua geração espalhada ao longo do sistema de transmissão de energia e tem seu despacho centralizado pelo ONS. 

Os cortes de energia de geração de ativos eólicos e solares têm sido feitos com o objetivo de evitar desequilíbrios entre a oferta e demanda de energia ao longo do sistema de transmissão. Tais eventos podem ser causados tanto pela falta de um sistema de transmissão adequado à geração local ou por falhas do sistema.

O sistema de GD não é ligado ao sistema de transmissão e não está sob controle do ONS. Ainda assim, existe a preocupação que a relevância tomada pela GD no sistema elétrico 

brasileiro (SEB) possa levar a algum tipo de restrição da GD na modalidade de geração remota, em que parques não estão instalados diretamente no ponto de consumo (como as placas solares domésticas, por exemplo).

Nesse ponto, além da impossibilidade técnica (não são controladas pelo ONS), achamos que vale a pena comentar a baixa relevância da GD remota no total da capacidade instalada. Segundo dados da ANEEL e da ABSOLAR, o SEB tem em 2025 uma capacidade instalada total de 248GW de potência. A fonte solar é a segunda mais relevante, atrás da hídrica, com 55GW. Desse total, 37GW são GD solar e desse total, segundo dados da GREENER somente 9GW estão na modalidade de GD remota.

6 gráficos sobre a Matriz Elétrica Brasileira e o setor de Geração Distribuída

Gráfico #1: Solar representa hoje 21.5% da matriz elétrica do Brasil.

Gráfico #2: Forte crescimento da fonte Solar nos últimos anos.

Gráfico #3: Dentro de Solar, Geração Distribuída cresceu mais do que geração centralizada, e hoje é aprox. 70% da geração.

Gráficos #4 e #5: Geração Distribuída não é controlada pelo ONS. Diferentes tipos de Geração Distribuída:GD remoto representa somente 16% da geração solar e 4% da matriz elétrica brasileira.

Gráfico #6: Geração Distribuída Solar por Classe de Consumo.