Por Marcella Ungaret – Head de Research ESG da XP e sócia da XP Inc.
Formada em Administração de Empresas pela FEA-USP e vencedora do Prêmio Ruy Leme de Excelência Acadêmica da USP, Marcella começou sua carreira em Equity Research no Bank of America Merrill Lynch. Em 2018, entrou na XP para ajudar na criação do time de Research e hoje lidera a frente ESG na área. Nos últimos 3 anos, recebeu o prêmio da pesquisa ‘Institutional Investor’ dentre as melhores analistas e times de Research ESG do Brasil e da América Latina.
Conteúdo baseado no Radar Uinvex, material escrito pessoalmente pelos fundadores da Uinvex ou por experts renomados em suas áreas de atuação sobre temas relevantes do mercado de investimentos.
A COP30 chega envolta em incertezas. Apesar dos esforços de preparação, Belém ainda enfrenta gargalos logísticos - da oferta de hospedagem à infraestrutura de transporte - que colocam à prova a execução de um evento dessa magnitude. Paralelamente, o cenário político internacional adiciona volatilidade: a indefinição sobre a política climática dos Estados Unidos, sob a administração Trump, e o realinhamento geopolítico global reduzem a previsibilidade de consensos multilaterais. Por outro lado, expectativas não faltam - e são sobre elas que se desenham os principais eixos de atenção do mercado.
Um dos principais focos da COP30 será a validação e ampliação dos compromissos climáticos nacionais. Até o momento, apenas 106 dos 193 signatários do Acordo de Paris (mais a União Europeia) apresentaram novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). A conferência deverá, portanto, reforçar o processo de revisão e responsabilização das metas, com o Global Stocktake - mecanismo de monitoramento coletivo - no centro das discussões. Outro tema caro à esta COP (e não exclusivo à ela, dado seu caráter central em demais anos) será o financiamento climático. Em continuidade à meta definida na COP29, de mobilizar US$ 300 bilhões anuais até 2035, espera-se que o debate evolua a caminho de um acordo mais ambicioso, ao mesmo tempo em que a dificuldade em ampliar a base de doadores e garantir previsibilidade dos fluxos permaneça como entraves. Sem um arcabouço claro de governança e transparência, a ambição climática corre o risco de permanecer no campo da retórica.
Acelerando a descarbonização, e suas oportunidades de investimento
Desenvolvendo-se em cima do acordo assinado ano passado, a COP30 deve reforçar a meta global de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030 - contexto sob o qual o Brasil desponta como ator-chave. Com uma matriz elétrica e energética predominantemente limpa, somado à abundância de recursos naturais, o país possui condições ímpares de escalar sua geração renovável, avançar na produção de biocombustíveis e atrair capital internacional para projetos de transição energética. Outro ponto relevante será a integração dos mercados de carbono. Espera-se que o Brasil, além de apresentar avanços no desenvolvimento de seu mercado regulado (ainda em fase de estruturação), também fomente a criação da Coalizão Aberta para Integração do Mercado de Carbono, indo além do escopo nacional e mirando conectar sistemas de comércio de emissões em uma perspectiva global. À medida em que a agenda climática avança, cresce também o interesse dos investidores em mensurar o custo financeiro das emissões - e respectivo impacto para as empresas, com tal agenda desempenhando um papel importante na previsibilidade dos preços de carbono e instrumentos financeiros lastreados no mesmo.
A COP30 será, em última análise, um teste da credibilidade brasileira - e global - no avanço da implementação de uma economia de baixo carbono. Para o mercado financeiro, o encontro em Belém representa mais do que um fórum diplomático: será um ponto de inflexão sobre a direção (e o tamanho) do capital climático. Isso posto, os investidores estarão atentos não apenas às declarações políticas e acordos multilateriais, mas à criação de estruturas concretas de financiamento, precificação de carbono e finanças verdes. Afinal, a transição climática não se fará apenas com boa vontade, mas com governança, liquidez e consistência regulatória. Se o Brasil conseguir articular essas dimensões, a COP30 poderá marcar um avanço importante do plano de intenções, para um ciclo de ações concretas, reforçando o papel do país na diplomacia climática e descarbonização global.
Marcella Ungaret
Head de Research ESG da XP e sócia da XP Inc.