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Brasil: o País da Renda Fixa

Análise do mercado de renda fixa no Brasil, destacando seu crescimento superior e a performance sólida versus a renda variável nos últimos 25 anos.

Brasil: o País da Renda Fixa
Brasil: o País da Renda Fixa
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Autores desta edição: Ivano Westin e Andre Sobreira, fundadores da Uinvex

Conteúdo baseado no Radar Uinvex, material escrito pessoalmente pelos fundadores da Uinvex ou por experts renomados em suas áreas de atuação sobre temas relevantes do mercado de investimentos.

1o trimestre 2025

O 1o trimestre de 2025 terminou com: (i) a valorização de 8% do BRL frente ao US$, impulsionado pelo enfraquecimento global do dólar e pela alta dos juros no Brasil, que atraíram investidores estrangeiros, (ii) a boa performance do Ibovespa (+8%), (iii) os títulos públicos apresentaram desempenhos positivo, o Tesouro IPCA+ 2035 (Juros Semestrais), por exemplo, teve uma valorização de +3.7% no ano. 

Na “boa e velha” renda fixa, tivemos um aumento da taxa básica de juros no Brasil para 14,25% (o maior nível desde 2016), com a perspectiva de outro aumento na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), em Maio.   Analisamos os movimentos de longo prazo e comparamos a performance dessas classes de ativos nos últimos 25 anos. Independentemente da performance de curto prazo, acreditamos que o Brasil continua sendo “o país da renda fixa”.

2024

O cenário atual consolida a hegemonia da renda fixa: 

  • O mercado de renda fixa no Brasil é em termos absolutos maior do que o mercado de renda variável: o gráfico no começo deste documento, que mostra um total de 91.8 milhões de CPFs na renda fixa (vs 5.3 milhões na renda variável) e R$ 2.4 trilhões em custódia (vs R$ 0.5 trilhão na renda variável).
  • Crescimento vertiginoso da renda fixa nos últimos anos. Desde 2021 houve um crescimento muito forte do mercado de renda fixa no Brasil. O número de investidores multiplicou por 9.1x (de 10 milhões de CPFs em 2021 para 91 milhões de CPFs em 2024), e a posição total multiplicou por 2.4x (saltando de R$ 1 trilhão para R$ 2.4 trilhões)

  • Principais produtos da renda fixa: Os CDBs e RDBs são os maiores produtos com R$ 1.1 trilhão, seguidos pelas LCAs e LCIs (R$ 512 e 389 bilhões respectivamente), e depois pelos investimentos no Tesouro Direto e Debêntures (R$ 142 bilhões cada), CRAs (R$ 12 bilhões), CRIs (R$ 92 bilhões) e COE (R$ 65 bilhões).

  • Baixo crescimento da renda variável. Enquanto a renda fixa cresce fortemente, a renda variável mostra crescimento baixo. A posição total dos investidores em ações na B3 caiu de 2020 (R$ 363 bilhões) para 2024 (R$ 347 bilhões), no que pese o número de investidores ter aumentado de 2.4 milhões de CPFs para 3.9 milhões no mesmo período. Enquanto isso, não tivemos qualquer IPO no Brasil. Aliás, desde o forte ano de 2021 (recorde de IPOs histórico, um volume de R$ 65.6 bilhões em 46 ofertas), o mercado está “fechado” para a abertura de capitais no Brasil.

Comparativo de CDI e Ibovespa nos últimos 25 anos

Nos últimos 25 anos, o CDI superou consistentemente o Ibovespa, performando 2.2x mais do que o IBOV desde 2000.

A poupança se mostra com rendimentos que rendem pouco acima da inflação, ficando muito abaixo do CDI. Desde 2000, a poupança rendeu pífios 34% do CDI, e somente 1.2% acima da inflação em média a cada ano. Nesse mesmo período, o CDI teve rendimentos médios anuais de 6.0% acima da inflação, enquanto o IBOV rendeu 2.2% acima da inflação.

Uma das grandes diferenças entre renda fixa e variável é a volatilidade. Não só o IBOV teve rentabilidade significativamente inferior ao CDI nos últimos 25 anos, mas essa rentabilidade também veio acompanhada de uma variabilidade alta de resultados. O gráfico abaixo ilustra esse ponto: desde janeiro de 2000, o IBOV teve retornos negativos em 135 dos 303 meses, ou seja, em 44% do tempo. Alta volatilidade é um fator importante que os investidores têm que levar em mente nas suas decisões.

Resumo: lições da renda fixa vs. renda variável nos últimos 25 anos

  • Mesmo com a boa performance do IBOV este ano (+8%), o Brasil continua sendo “o país da renda fixa”.

  • Tamanho e crescimento do mercado. Não só o mercado de renda fixa é bem maior do que o mercado de renda variável no Brasil (R$ 2.4 trilhões e 91.8 milhões de CPFs em renda fixa, versus R$ 0.5 trilhões e 5.3 milhões de CPFs em renda variável), mas a renda fixa vem crescendo muito mais fortemente nos últimos anos (número de investidores e valores em renda fixa multiplicaram por 9.1x e 2.4x desde 2021, enquanto que na renda variável, por exemplo, não houve nenhum IPO no Brasil desde 2021).

  • Performance: Nos últimos 25 anos, o CDI teve performance muito superior ao IBOV, 2.2x acima.

  • Importância de diferenciar os tipos de renda fixa. Apesar de ser o ativo de renda fixa mais utilizado pelos brasileiros, a poupança tem historicamente rendimentos muito abaixo das taxas de juros básicas da economia. Desde 2000, a poupança rendeu somente 34% do CDI.

  • Proteção contra a inflação: Nos últimos 25 anos, o CDI teve um rendimento médio anual de 6% acima da inflação. Adicionalmente, para os investidores preocupados com inflação, há vários tipos de títulos públicos e privados pós fixados com objetivo de proteção do poder de compra, os chamados “IPCA+”.

  • Volatilidade: O IBOV apresentou performance mais fraca que o CDI e com pior qualidade, tendo retornos negativos em 44% dos meses desde janeiro de 2000.

Bons investimentos,

Ivano Westin & Andre Sobreira

Sócios fundadores da Uinvex