- Tempo de leitura: 8 min.

30 anos de inflação e juros no Brasil

Histórico dos movimentos da taxa de juros e inflação no Brasil nos últimos 30 anos, com análise detalhada em 7 gráficos.

30 anos de inflação e juros no Brasil
30 anos de inflação e juros no Brasil
9:46

Nesta edição:  Neste Radar, fazemos um breve histórico dos principais movimentos da taxa de juros e inflação no Brasil dos últimos 30 anos, em 7 gráficos.

Autor desta edição: André Sobreira e Ivano Westin, fundadores da Uinvex. 

Conteúdo baseado no Radar Uinvex, material escrito pessoalmente pelos fundadores da Uinvex ou por experts renomados em suas áreas de atuação sobre temas relevantes do mercado de investimentos.

Breve introdução e contexto: a relação entre juros e inflação

A taxa Selic é a principal taxa de juros do Brasil e serve como referência para o custo do dinheiro no país. Ela é definida pelo Banco Central a cada 45 dias para ajudar a controlar a inflação, que é o aumento geral dos preços dos produtos e serviços. Quando a inflação está alta, o Banco Central aumenta a Selic para tornar os empréstimos mais caros e diminuir o consumo, ajudando a segurar a alta dos preços. Quando a inflação está baixa, ele reduz a Selic para estimular o consumo e o crescimento da economia.

O que significa a Selic alta para o brasileiro comum?

A alta persistente dos preços de um país (alta inflação) requer um remédio, que se chama aumento da taxa de juros – que em 18 de junho de 2025 foi elevada para 15%, o nível mais alto desde 2006.

Resumo prático

  1. Juros altos = investimento em renda fixa rende mais.
  2. Juros altos = inflação pode desacelerar, ajudando o dinheiro a valer mais no futuro.
  3. Juros altos = crédito caro = menos facilidade para comprar no crédito.
  4. Juros altos podem frear o crescimento da economia e impactar empregos.

Isso tem vários efeitos no dia-a-dia das pessoas:

  1. Empréstimos e financiamentos ficam mais caros: Cartão de crédito, cheque especial, financiamento de carro ou casa e empréstimos pessoais têm juros maiores. Isso dificulta comprar coisas parceladas ou fazer dívidas.
  2. Poupança e investimentos de renda fixa rendem mais: Aplicações como poupança, Tesouro Direto e CDBs pagam mais juros, o que pode ser bom para quem quer guardar dinheiro. Mas, para quem precisa do dinheiro no curto prazo, o custo do crédito pode pesar.
  3. Consumo tende a diminuir: Com juros altos, as pessoas e empresas compram menos, o que pode frear a economia e até afetar empregos.
  4. Inflação pode desacelerar: Juros altos ajudam a segurar o aumento dos preços, protegendo o poder de compra do seu dinheiro no longo prazo, mas o custo imediato para o consumidor é maior.

Por que a Selic está tão alta atualmente?

Nos últimos anos, o Brasil enfrentou períodos de inflação alta, principalmente após a pandemia, quando os preços subiram muito rápido. Para conter essa inflação, o Banco Central aumentou a Selic várias vezes desde 2024, passando de 10.50% para 15% em poucos meses. Historicamente, quando a inflação sobe, o Banco Central aumenta a Selic para evitar que os preços saiam do controle, mesmo que isso torne o crédito mais caro e o crescimento econômico mais lento. Esse é um remédio necessário para evitar que o dinheiro perca valor rapidamente e que os preços fiquem fora de controle, o que prejudica especialmente camadas da população de renda mais baixa.

Portanto, a Selic alta é uma medida para tentar proteger o seu dinheiro da inflação, mas que também torna o crédito mais caro e pode apertar o orçamento das famílias no curto prazo. 

Conforme nota do  – Banco Central do Brasil¹: “Manter a inflação sob controle, ao redor da meta, é objetivo fundamental do Banco Central (BC). A me​ta para a inflação​ é estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

A estabilidade dos preços preserva o v​alor do dinheiro, mantendo o poder de compra da moeda​. ​Para alcançar esse objetivo, o BC utiliza a política monetária, política que se refere às ações do BC que visam afetar o custo do dinheiro (taxas de juros) e a quantidade de dinheiro (condições de liquidez) na economia. No caso do BC, o principal instrumento de política monetária é a taxa Selic, decidida pelo Copom​. 

A taxa Selic afeta outras taxas de juros na economia e opera por vários canais que acabam por influenciar o comportamento da inflação.”

 ¹Citação direta da seção de política monetária do Bacen: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao

30 anos de inflação e juros em 7 gráficos

Analisamos os últimos 30 anos de histórico dessas duas variáveis no Brasil, e fazemos um breve resumo dos principais movimentos em 7 gráficos.

Gráfico #1: 1995–2006. Estabilização pós plano Real

No gráfico acima vemos um claro movimento do efeito do Plano Real na inflação, caindo vertiginosamente de níveis acima de 40% ao ano para níveis abaixo de 5% ao ano já em 1998. Coma queda da inflação, baixa-se também a taxa de juros da economia, em um movimento de tendência de queda geral até o começo de 2007.

Algumas exceções pontuais nesse período, visíveis no gráfico acima: (i) a crise dos Tigres Asiáticos de 1998, gerando volatilidade na taxa de juros brasileira para proteger o poder do recém criado Real, devido a fuga de capital de países emergentes, e (ii) em 2002–2003, alta e posterior queda tanto de juros como de inflação devido às incertezas dos agentes econômicos causada pela transição de poder governo FHC-2 e primeiro governo Lula. 

Gráfico #2: 2007–2012. Estímulos (inflação subindo, juros caindo)

Após a tendência geral do período anterior de queda de juros e inflação, se estabelece em 2007–2012 a tendência de estímulos econômicos gerais que levará, no período seguinte, à crise econômica de 2016.

Nesse período, temos duas tendências claras:

  1. uma queda brusca da taxa de juros: de 13% em janeiro de 2007 a 7.25% em dezembro de 2012, o menor valor histórico no Brasil até aquele momento.
  2. uma alta igualmente brusca da inflação, partindo dos níveis de 3.0% em janeiro de 2007 e dobrando para níveis próximos de 6.0% ao final de 2012.

Gráfico #3: 2013–2016. Alta da inflação, alta do juros. Crise econômica

De 2013 a 2016, temos ambas inflação e juros atingindo máximos históricos dos últimos 10 anos. O Banco Central tenta reverter a queda de juros do período anterior, fazendo um aumento brusco para tentar conter a inflação, que persiste em aumentar.

  1. juros quase dobrando de 7.25% no começo de 2013 para 14.25% ao final de 2015.
  2. inflação também subindo bruscamente no período, indo de ao redor de 6.0% para ao redor de 10.0% no começo de 2016.

Esses movimentos geraram a maior crise da história recente do Brasil, com queda do PIB de 4 trimestres de -4.5% no segundo trimestre de 2016 (queda esta maior do que a queda de 2020 devido a pandemia, vale ressaltar), gerando a crise política que culminou com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff em agosto de 2016.

Gráfico #4: 2016–2020. Queda da inflação, queda do juros

No período pós 2016 até 2020 (primeiros meses da pandemia), tivemos um movimento consistente de tanto queda de juros como de inflação:

  1. juros caindo de 14.25% em janeiro de 2016 para 2.0% em agosto de 2020, o menor patamar da história do país.
  2. inflação caindo dos níveis de 10.0% no começo de 2016 para níveis próximos de 2.0% na metade de 2020, também próximo ao menor patamar histórico recente.

Gráficos #5 e #6: 2020–2023. Pós pandemia.

Após a primeira onda da pandemia, temos dois movimentos bastante claros:

  1. Após a primeira onda da pandemia, a partir da metade de 2020, tivemos um movimento inflacionário (que ocorreu no mundo inteiro neste período), seguido por equivalente aumento da taxa de juros:
    • inflação indo dos níveis de 2.0% na metade de 2020 para acima de 10.0% na metade de 2022.
    • juros indo dos níveis historicamente baixos de 2.0% para 13.75% ao final de 2022.
  2. Depois dessa retomada da inflação, temos uma reversão da mesma, seguida pela estabilização da taxa de juros em patamares altos.

Gráfico #7: 2023–2025. Volta da inflação e subida de juros

A partir da estabilização do patamar da taxa de juros do período anterior, juntamente com a estabilização e volta da inflação para níveis baixos (após a subida brusca pós-pandemia), o Banco Central começa um ciclo de queda de taxa de juros, saindo de 13.75% no começo de 2023 para um mínimo de 10.50% em maio de 2024.

A partir da metade do ano passado, começa o movimento de ambas as taxas que domina o noticiário econômico atual: 

  1. alta da inflação para 5.48% (IPCA últimos 12 meses em Março 2025, último dado disponível na data deste relatório).
  2. retomada brusca da alta da taxa de juros para conter a tendência inflacionária, de 10.50% no meio de 2024 para 14.75% na última reunião do COPOM de Maio 2025, o maior patamar dos últimos 19 anos.

Bons investimentos,

Andre Sobreira & Ivano Westin

Sócios fundadores da Uinvex